Gilberto Jasper
_*Jornalista/[email protected]*
Ir ao banco é um exercício quase medieval. Primeiro eram os cartões, depois o computador, o celular e agora os relógios de pulso. Tudo está concentrado nestes dispositivos para ganhar tempo, evitar demoras e cumprir rotinas sem sair de casa ou do trabalho.
Recebi um vídeo com o título “A facilidade afasta as pessoas”. Em 30 segundos, uma bela mulher, de olhos claros, conta que levou o pai a uma agência bancária, exercício que levou um tempo significativo em decorrência das filas.
Mesmo conhecendo o pai, a moça indagou porque ele não permitia que se baixasse o aplicativo do banco no celular para evitar aborrecimentos. Com paciência e pausadamente– conta ela – o homem respondeu:
– Falei com quatro pessoas desconhecidas durante o tempo que permanecemos no banco. E eu adoro este “contato físico” quer permite trocar ideias, dialogar e conhecer gente nova, coisa que usando o celular não aconteceria – justificou.
A intromissão da tecnologia em praticamente todas as nossas rotinas tem como objetivo “oficial” facilitar a vida, agilizar procedimentos, evitar perda de tempo. Paradoxalmente vivemos uma era sem precedentes em relação aos avanços de ferramentas e plataformas. E por incrível que pareça nunca antes tivemos índices tão elevados de solidão, depressão e suicídios.
A comparação remete a um meme que circulou bastante há tempos atrás. O desenho mostrava um velório, dezenas de cadeiras vazias e apenas quatro pessoas rezando. A mulher, que deveria ser a viúva, olha em volta e desabafa:
– Puxa vida… tão pouca gente aqui e ele tinha tantos amigos na Fecebook!
A modernidade do século 21 criou um contingente de pessoas que estão por dentro de todas as novidades, conhecem um sem número de dispositivos tecnológicos, mas não conseguem sair de casa. Raramente vão a um bar para tomar um chope, jogar conversa fora, recordar os bons tempos e dar boas risadas.
Há dois anos me reúno semanalmente com um pequeno grupo de amigos em botecos. São parceiros de 20, 30, 40 anos de amizade. Raramente todos comparecem, mas os encontros são marcados por sonoras gargalhadas e imitações. O bar é nosso divã e a cerveja os medicamentos, companheiros inseparáveis para nós, sessentões, jovens há mais tempo.